'Eu gosto de viver. Já me senti ferozmente, desesperadamente, agudamente infeliz, dilacerada pelo sofrimento, mas através de tudo ainda sei, com absoluta certeza, que estar viva é sensacional.'

Agatha Christie.

domingo, 29 de agosto de 2010

Eu em 2030.

Eu me imagino acordando antes dele. Me imagino olhando ele ressonar de leve, ou até mesmo roncar, isso não importa. O importante é que ele estaria ali, dormindo, e eu, olhando. Depois, eu levanto devagar pra ele não acordar, mas não adianta. Quando eu chego à porta, ele chama meu nome. Eu viro e sorrio, apesar da cara amassada. "Bom dia." Vou ao banheiro, onde tem um vaso cor de grafite. Saio e bato nas portas do corredor e chamo por eles dois, os dois outros homenzinhos da minha vida.

Desço as escadas e preparo o café. Eu já terei aprendido a virar os ovos daquele jeito que os chefs fazem na frigideira, sem que os ovos caiam no chão. E farei isso com muita prática. Todos três descem, os dois menores com aquela cara de sono que herdaram do pai. Todos tem os cabelos enrolados e assanhados, e todos olham pra mim com olhos cor de mel.

Eu os levo pro colégio e dou tchau pro homem que dormiu comigo. Deixo-os no colégio e vou pra redação do jornal. Sim, sou jornalista, não chef de cozinha. Deus me livre de uma cozinha. Só a cozinha da minha casa será meu reino. Escrevo a matéria sobre um novo restaurante. Sim, sou crítica gastronômica. Como e falo mal dos outros, o sonho de qualquer pessoa.

Volto à tarde e pego os meninos. Luca pula em cima de mim. Como ele está crescendo! E só tem 10 anos. Imagina como o Miguel não ficará também? Ele já é o maior da turma. Luca é muito carinhoso e Miguel bem mais sério. Luca demorou mais que o Miguel pra aprender a ler e escrever, mas os dois são muito parecidos. E bem altos pra idade. O pai deles é alto. Deram fermento junto com o Nescau pra ele na infância. E eu sei usar salto alto. Mas dirijo descalça. Sim, eu perdi o medo de dirigir.

À noite eu faço o jantar. Todo mundo fala alto, come muito e ri bastante. Ele olha pra mim com admiração, até de deixar com vergonha. E os quatro riem, porque as minhas orelhas estão vermelhas. Elas ainda ficam vermelhas e quentes. Ele morde minha orelha e eu brigo com ele, porque não gosto que peguem nela. A orelha continua sendo só minha, mesmo depois do casamento.

Conto uma história pros menores. Dou boa noite e subo pro sótão da casa, a torre do nosso castelo. E quando eu olho a lua cheia, eu sorrio e agradeço a Deus por tantas bênçãos e por tantos sonhos realizados. Eu agradeço por meus amigos que eu consegui manter e pelos familiares que ainda estão vivos. E, então, ele chega por trás de mim e me abraça, me dando um susto. Ele me faz rir contando uma piada boba e nós nos beijamos, com o mar atrás de nós.

E nós vamos dormir. Não antes de... bem, vocês sabem.

2 comentários:

João "Johnny" Roberto disse...

Nossa! Que futuro bonitinho. é assim que tem ser a vida, pelo menos de pessoas como nós. 8D

Órion Games disse...

Muito bonita essa... crônica do futuro! Adorei!!!

 

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