'Eu gosto de viver. Já me senti ferozmente, desesperadamente, agudamente infeliz, dilacerada pelo sofrimento, mas através de tudo ainda sei, com absoluta certeza, que estar viva é sensacional.'

Agatha Christie.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sobre Motocicletas e Tempo.

Eu fui visitar a Ítala. Ela é uma amiga minha de infância, literalmente. A Ítala e o pai dela estavam numa moto numa noite dessas e sofreram um acidente. Foi horrível, pelo que eu ouvi, mas eu tenho um sangue muito frio pra essas coisas, mesmo sendo a Ítala, aquela loirinha que eu vi crescer. Ela teve uma fratura exposta na perna esquerda, com perda de tecido ósseo e terá que fazer enxerto. O pai dela também quebrou a perna, mas o que fodeu foi que ele perdeu muito sangue, e quebrou a mão tentando proteger a filha, segurando a cabeça dela na hora da queda, já que ela estava sem capacete.

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Eu adoro moto, sempre gostei. Sinto mais vontade de aprender a andar de moto do que de dirigir carro. Conversei muito com o Pedro sobre isso, ele sabe andar de moto. Me contou as quedas históricas da vida dele, e, por increça que parível, eu me sentia cada vez mais motivada a andar de moto. Caramba, é uma liberdade tão grande, né? É divertido. É como andar num carro totalmente conversível e que não fica parado em engarrafamentos. É perfeito.

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A gente chegou ao Frotão na hora das visitas e esperamos uma meia hora. Conseguimos entrar. O elevador estava quebrado, tivemos que subir um monte de escadas. Quando finalmente encontramos o leito foi muito... Estranho. Ver a Ítala lá, deitada, com aqueles ferros na perna segurando a fratura, aquela atadura, os arranhões no braço, e até os óculos novos arranhados. Aquela menina, MENINA, que podia ter morrido em poucos segundos, ali, naquela cama, me mostrando mais força do que eu já vi na minha vida. Ela não desmaiou e não chorou. Foi quando ela começou a repassar a cena do acidente que aconteceu. Tive uma puta queda de pressão. Caí durinha numa cadeira, suei frio e não ouvia nada direito. Vista escura e tudo mais que alguém que já desmaiou sentiu sabe do que eu estou falando. Uma sensação de... Morte.

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Conversei com o Pedro sobre isso também. Ele também teve uma queda de pressão quando ajudou a mãe agora, numa cirurgia que ela fez. Ele viu sangue saindo da sonda dela, sei lá, e quase caiu durinho. Ele concordou comigo que foi horrível. É estranho, porque eu sou quase uma açougueira sanguinária, e ele também é. Mas quando é com quem a gente conhece, com quem a gente ama... Muda totalmente.

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Saímos de lá e tudo o que eu conseguia era pensar em como a vida é efêmera e em como eu sou fraca. Puta merda, a Ítala foi tão madura. Se fosse comigo, eu tinha morrido só de frescura. E eu me lembrei que nunca falei de verdade como eu a amava e nunca demonstrei. E eu queria dizer que eu amo aquela garota, de verdade. Quando a gente era piveta, a gente faltava se matar de brigar, mas quando eu conheci a Érica, éramos nós três. Indo na Rádio pra pedir músicas, andando de bicicleta no meio da rua, ou eu dando uma de ‘Madame Dòris’ e tirando as cartas pra elas. Até hoje eu faço isso por sinal. Eu amo a Ítala e só disse isso nos depoimentos frios de Orkut. Ela poderia ter morrido, e eu jamais me perdoaria de não dizer que eu a amava, porque eu a amo. Muito.

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Eu acho muito feio mentir. Mas tecnicamente não existe o Mandamento ‘Não Mentir’, logo, eu posso me enganar achando que é um pecado pequeno. Mas acontece que eu mentiria mil e uma vezes só pra ficar mais dez minutos com o Pedro. Eu não me canso dele nunca. Eu o amo. E não vou cansar de dizer isso, mesmo que eu me arrependa. Porque eu percebi que não dá tempo de parar pra pensar se eu amo mesmo ou é só uma paixonite. Até porque, eu sei que não é paixonite. O que eu tô tentando falar é que eu já devia estar acostumada com perdas, mas eu não tô. Não dá tempo de não se jogar. E se eu perdesse o Pedro pra essa força que é mais forte que o amor e mais maligna que o ciúme? Não, não, eu não posso perder tempo. E eu minto, traio, roubo, mato e morro por quem eu amo. E eu amo o Pedro, assim como amo a Ítala.

A amiga mais forte, sempre.

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